16/03/17

Até ao navio naufragado

     O silêncio da viagem era bastante bem-vindo. Durante a última semana, o barulho excessivo parecia estar em todos os lugares. A excitação de toda a gente em relação ao navio encontrado parecia seguir-me para todo o lado e o alarido que houvera tinha-me provocado uma leve dor de cabeça e ouvidos constantemente a zunir, os quais eu juro ainda poder sentir.
     Sendo eu apenas estagiária, na última semana todos pareciam tentar decidir onde eu deveria ficar encaixada nesta história e eu, inevitavelmente, fui arrastada para a confusão.
     Assim, e embora a revelação que eu participaria em analisar o navio naufragado encontrado em África tivesse sido estonteante, não poderia ter deixado de sentir alívio ao entrar no avião e ser envolvida em calmos sussurros e conversa suave. E agora, mesmo com o calor insuportável no jipe, presente mesmo com o ar-condicionado no máximo, a sensação continuava a mesma, apenas com o baixo som da música e a conversa das pessoas ao meu lado.
     Quando chegámos, o que não demorou tanto quanto esperava (quem sabe não deixei o sono envolver-me), fomos recebidos por apenas uma dúzia de pessoas que pareciam já nos aguardar. Após várias explicações sobre o navio e como tinha sido encontrado, foram-nos estendidos fatos de mergulho. Já todos sabíamos como os usar correctamente, mas mesmo assim foram sendo dadas dicas e conselhos até estarmos totalmente preparados.
     Logo que o barco que nos levava para o lugar onde o navio estava naufragado parou, todos nós (a este ponto éramos seis: três tinham vindo comigo de Portugal e dois dos que nos aguardavam na costa) nos preparámos para saltar pra a água, e após alguns minutos um a um foram sendo ouvidos suaves sons de embate na água.
     O navio estava em melhor estado do que eu esperava, quase praticamente intacto, salve o grande buraco no casco. Grande parte do navio estava coberto em algas e anémonas de cores variadas, e podiam ser vistos peixes s entrar e sair do navio pelas entradas disponíveis. O mastro não estava visível em lado nenhum e grande parte do interior estava quebrada e chegada para um lado, respeitando a posição horizontal do navio.
     Quando um dos meus colegas me chamou com um movimento da mão e me trouxe à superfície, perguntou-me se alguma vez tinha visto algo assim. Sorri, acenei com a cabeça de forma negativa e comecei a pensar no meu relatório.


Daniela Domingues, 9ºA

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